sábado, 29 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010

Γεια σας




A viagem para Atenas começou abruptamente perfeita. Quando aterrei no aeroporto de Barcelona constatei que os voos para a capital grega estavam cancelados, resultado de mais uma greve geral. Passei a tarde desse dia - já bem distante – com o telemóvel na mão de forma a perceber se teria voo no dia seguinte. Tudo correu pelo melhor, e no dia 6 estava em Atenas.
A Rita havia-me alertado sobre o que era a realidade grega e a situação que se vivia no país. Eu próprio tinha criado em mim um imagem particular, resultante do que diariamente recebia pelos vários órgãos de comunicação social portugueses que acompanham a crise que se vive.
Atenas é de facto uma cidade diferente e complicada de se compreender. Se por um lado conseguimos imaginar o que foi uma civilização rica, berço da democracia e fonte de inspiração para algumas das mais belas obras culturais da humanidade, também é possível mergulhar no caos e na confusão que se vive nos dias de hoje. As pessoas estão nervosas e sente-se uma grande ansiedade enquanto caminhamos pelas várias ruas recheadas pelas mais tentadoras iguarias que alguma vez provei. Dicotomia, talvez seja esta a expressão que melhor classifica a Grécia e que ajuda a perceber como é possível termos no mesmo país uma ilha como Santorini e paisagens como as de Meteora que contrastam com as várias semelhanças que aproximam a Grécia de uma país fora da órbita europeia.
Paralelamente a esta realidade dicotómica, existe um ponto que é apelidado pelos “nativos” por Mavro . Para além de ser a residência da Rita e da Ângela, este local funciona como o ponto de encontro para os Erasmus que vivem a sua experiência em Atenas.
É impossível não estabelecer comparações com o que vivi em Manchester e em relação às pessoas que lá conheci. Mavro é ao mesmo tempo Cavendish e a casa que foi minha residência em Inglaterra. No primeiro dia neste mundo fui recebido com uma festa de 80 pessoas num espaço que moralmente deveria ser para pouco mais de 10. Sim, um pouco do que acontecia em Cavendish. A convivência em casa é ligeiramente diferente. Existem os habituais problemas, naturais de quem partilha casa com pessoas que carecem de certas noções de humanidade, mas o espírito é positivamente diferente. Tenho inveja pela Rita poder partilhar o mesmo espaço com pessoas tão distintas e que me souberam receber tão bem.
Também eu sou vítima de uma hiperactividade cerebral fora do normal e quando uma das colegas de casa da Rita me perguntou o que era melhor, comparando Manchester com Atenas, procurei mil e uma respostas plausíveis, totalmente fundamentadas e com base em qualquer raciocínio lógico. É impossível comparar duas realidades tão distintas, mas cada vez mais acredito que o mais importante nesta experiência passa um pouco ao lado do local onde a fazemos, sendo muito mais relevante tudo aquilo que recebemos de cada momento que vivemos longe do mundo real e enquadrados num universo que a cada dia parece mais paralelo.


Ivo Neto