A verdade é que parece que foi ontem que cheguei a Mavro. Parece que foi ontem que os meus olhos se encheram de água quando vi o meu actual quarto. Parece que foi ontem que chorava na sala do Tibault e da Marie porque não tinha internet. Parece que foi ontem que liguei ao Ivo a dizer que queria ir embora. Parece que foi na semana passada que andava por Atenas a carregar as malas. Mas não... Já foi há quase 4 meses que aqui cheguei... Há duas semanas o Laurent foi embora. A família Mavro perdeu um dos seus membros. Foi muito estranho ver alguém a ir embora. Não só pela perda da pessoa em si, mas porque finalmente me apercebi que isto não vai durar para sempre. Isto não é a minha vida real, isto não é palpável, isto não é concreto. Isto é apenas um sonho que daqui a algumas semanas não mais será do que uma recordação (uou! tão poética que eu estou). E é triste que assim seja. Por muito que me custe admitir, a verdade é que provavelmente, nunca mais verei estas pessoas na vida. Estas pessoas que já há mais de três meses fazem parte da minha rotina, estas pessoas que durante este tempo se tornaram a minha família e os meus melhores amigos. Lembro-me perfeitamente de dizer a mim própria que quando viesse para cá não queria afeiçoar-me a ninguém, pois já sabia que isto é efémero. E esta efemeridade de coisas que são tão intensas, dói. Doeu entregar a bandeira grega ao Laurent com todas as nossas assinaturas, doeu o abraço de despedida, doeu ir para a varanda e vê-lo a ficar cada vez mais pequenino... Penso muitas vezes como será voltar à realidade. Como será cair de pára-quedas de novo num meio a que eu costumava chamar 'casa'. Agora já não sei qual sinto mais que seja o meu verdadeiro lar. Apesar de feia, suja e com pessoas que falam sozinhas na rua ou que quase me espancam por eu ir de pernas cruzadas no metro, Atenas tornou-se a minha casa, a parte mais importante da minha vida actual, a cidade que, depois de tanta luta e esforço I can finally call 'my home'.
Rita Vilaça
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